quarta-feira, 15 de julho de 2009

O vácuo nas relações interpessoais

Proponho neste espaço uma reflexão sobre as relações afetivas e sociais de hoje em dia. Por que nos sentimos mais a vontade de expressar nossas angústias por um messenger do que presencialmente? Por que não frequentamos mais a casa de um amigo ou de um vizinho para uma conversa cara a cara? Será que a internet, um meio que a princípio foi criado para aproximar as pessoas que estão distantes, agora serve para distanciar as pessoas que estão próximas?


O assunto deste tópico é baseado numa coluna que li na Revista O Globo, de 12 de julho, chamada "Homem-máquina". A colunista, cujo potencial me surpreendeu, foi a Luiza Possi, que fez uma boa análise sociológica sobre a situação. Essa cantora, que caminha pela orla da praia da barra da tijuca frequentemente, age com uma simpatia e naturalidade que nem parece que passou alguma vez pelos holofotes da TV, em contraposição às patricinhas-emergentes sem estudo e moradoras da região, que "desfilam" no calçadão como se fossem a última Ruffles do pacote, com o narizinho em pé, fruto de uma plástica mal feita. Quem dera se tivesse transplante de cérebro para algumas pessoas. Mas vamos voltar ao assunto.

Atualmente temos tanta liberdade, e podemos tanto, que essa é a maior barreira entre as pessoas. São milhares de estilos músicais, livros, canais de tevê, opções para sair num sábado a noite. Até as formas de se comunicar hoje em dia são diversas. Com pouca coisa em comum, não é de surpreender que as pessoas se afastem cada vez mais, e as relações tornem-se cada vez mais superficiais e na base de algum interesse em comum. Se você não tem nenhuma moeda de troca com determinada pessoa, "tchau, passar bem".



Hoje em dia, portanto, é frequente a comunicação com muitas pessoas, mas sem uma troca de sentimentos mais profundos. Há quantidade, mas sem qualidade. Falta altruísmo, ajuda ao próximo, senso de justiça, companheirismo e lealdade. E pode-se dizer que a internet pode ser, sim, um vilão poderoso em relação ao rumo em que as relações interpessoais estão tomando. Como Luiza conclui num parágrafo, "o conceito de se relacionar está mudando, não sabemos ainda muito bem para onde". As pessoas não têm coragem de se abrir, conversar pessoalmente. Pelo messenger, assunto é o que não falta, mas ao vivo as pessoas se travam. Muitas pessoas perderam a capacidade de conversar e de ter um diálogo saudável. Quando reúnem-se num bar, a única coisa que se ouve é sobre trabalho, trabalho, trabalho, e dinheiro. É uma pessoa querendo aparecer mais que as outras através de suas "incríveis façanhas". "Comi 5 no final de semana", "Comprei um carro de R$ 60.000,00", "Bebi até cair no chão." Enfim, num momento de descontração, continuam com a cabeça no trabalho ou em outras coisas fúteis, e simplesmente esquecem de viver. Preferem viver no virtual: orkut, msn e afins. Como diria Luiza, "é mais fácil dizer para muita gente ao mesmo tempo que você está entrando no carro e indo para o supermercado do que sentar com um amigo e falar do que realmente nos faz bem, e do que nos faz mal.

Há pessoas que, inclusive, só conseguem manter uma amizade via internet, pois ao vivo, por algum motivo, não conseguem se comunicar. Há pessoas que agem como melhores amigos pela internet, mas ao encontrar-se ao vivo, são como estranhos. Há um parágrafo na coluna onde Luiza diz o seguinte em relação ao relacionamento entre ela e um amigo pela web: "Era menos assustador lidar com a minha interpretação de suas palavras, do tom de voz que eu imprimia em cada frase, da risada que eu via passando na minha cabeça e que talvez ele nunca tivesse dado. Era minha relação com a minha interpretação através da sugestão dele".


Sim, é exatamente isso: as pessoas, ao usar a internet para se comunicar, interpretam as mensagens à sua maneira. Imaginam o tom de voz, a feição do rosto, o grau de felicidade e de atenção dado a elas, e acabam supondo coisas que não são o real e que fazem apenas parte do imaginário. O mundo virtual é muito confortável, pois as coisas funcionam da maneira que nós queremos, que é mais conveniente para nós. Mas a vida real é muito diferente. É bem melhor ter amigos reais e presentes, com quem podemos compartilhar sentimentos, felicidades e angústias numa mesa de bar, do que amigos virtuais, que resultam numa comunicação fria e distante de sentimentos. Como diria a colunista, "o mundo virtual estã diretamente relacionado ao mundo imaginário, e nenhum é de fato palpável. E assim somos cada vez mais livres e mais entocados em nossos planetas particulares, nos privando da troca construtiva com o outro, ficando apenas com a ideia de se comunicar".


E Luiza levanta uma questão interessante em outro parágrafo: "Imaginem, então, se o Twitter promovesse um encontro entre as pessoas que postam mensagens o dia inteiro, dando as coordenadas de cada passo de suas vidas, e seus seguidores que acompanham fervorosamente cada informação. Como seria? O que diriam uns aos outros? Seria confortável saber quem são as pessoas que sabem tanto da sua vida? Que tipo de intimidade é criada entre essas pessoas? Às vezes acho que jogamos essas preciosas informações à deriva, sem direcionar na verdade para ninguém." E, por conseguinte, finalizarei (finalmente) com mais um trecho da coluna. "Falta de tempo é a nossa grande aliada na hora de ter uma desculpa para não podermos nos encontrar, mas tempo é a única coisa que temos na vida".

Um comentário:

Débora disse...

Também sinto falta de longas conversas na mesa do bar.