segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Toque de Recolher


Não sei se vocês repararam, mas, de uns meses para cá, a noite carioca está pra lá de diferente. Os cinemas vivem cheios, mesmo com a facilidade de hoje em dia poder baixar conteúdos piratas na internet. Já as noitadas, entretanto, estão ficando mais vazias e atraindo um pessoal mais careta. Isso tudo é consequência da Lei Seca e da mais nova lei que proíbe fumantes de fumar em ambientes fechados.

Devido à Lei Seca, quem bebe está evitando sair com os seus carros de casa, e trocaram-no pelo táxi. E muito poucos usam o ônibus como meio de transporte para voltar das noitadas, pelo motivo da carência deles nas madrugadas. O que acontece é que as nights tornaram-se muito mais salgadas economicamente, o que está fazendo muitos a optarem a ir a festas fechadas, com tudo liberado, ou a ficarem bebendo no aconchego de suas casas. Consequentemente, as noitadas estão atraindo pessoas menos... er... estragadas e mais saudáveis. Até a vibração, a sintonia mudou. Dificilmente presencia-se confusões e “porradarias”. Isso é o que eu chamo de “mão invisível”: modificações no ambiente que acontecem ao nosso redor, mas que poucos conseguem se dar conta.

Outro item responsável por diminuir o fluxo de pessoas nas ruas à noite foi a lei que impede de fumar em ambientes fechados. Quem tem vício não aguenta ficar muito tempo sem fumar, e acaba preferindo fazer algo diferente. Outro fator que tem feito muitos – ou, nesse caso, muitas – deixarem de frequentar casas noturnas é o calor exacerbado. Ainda que tenham potentes ar-condicionados, estes não têm conseguido dar vazão. As mulheres, que tanto demoram para se produzir, colocar maquiagem, esticar cabelo, numa questão de segundos transformam-se em Monstros do Lago Ness: o cabelo enrola, a maquiagem derrete, o sapato machuca, ficam com uma vontade louca de tirar a roupa e de ficarem nuas, e ainda por cima sempre vem uns manés suados e nojentos querendo agarrá-las à força. Ainda que os cabelos saiam menos fedidos, por não deixarem mais fumarem em ambientes fechados, as mulheres saem completamente decompostas da night, tamanho o calor.

Como já citado, não sei se vocês perceberam, mas aumentou bastante o número de pessoas indo ao cinema e aos shoppings centers. Mesmo porque há pessoas que, mesmo bebendo e fumando muito, não conseguem fincar o pé em casa. Agora aumenta o número de casaizinhos que passam suas noites no fresquinho dos shoppings. Sim, até um aumento da fidelidade essas medidas - as quais chamarei de “toque de recolher”- proporcionaram. Uns adoraram as mudanças, enquanto outros estão inconformados. Tenho que admitir que não sair fedendo a cigarro dos lugares, deixar de presenciar brigas, encontrar gente mais equilibrada e, ao mesmo tempo, ver menos tumulto por aí não é nada mal...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Presentes de Natal


Eu não comemoro o Natal, mas eu me sinto na obrigação de presentear alguém que vai me dar um presente. Mas a questão é: eu ODEIO comprar coisas para mim, quanto mais presente para os outros. E pra piorar a situação, temos um agravante: os shoppings lotaaaados por causa do Natal. Ainda não entendo como as pessoas arrumam dinheiro num país onde não há escasses de empregos e os salários são baixos. Às vezes tenho a sensação de que sou a única pessoa sem dinheiro no mundo.

Gosto de fazer compras, sim, mas quando tenho dinheiro e encontro o que eu quero bem na minha frente, num estalar de dedos. E em promoção. Ou seja: quase nunca. Eu tenho uma certa dificuldade para comprar coisas. Demoro um século para escolher algo para mim, e não me sinto à vontade de fazer compras na companhia de outras pessoas, exceto minha mãe. (Confidências de uma marmanja de 25 anos.) E quando tenho que comprar para presentear alguém? Como disse na postagem anterior, meu nível de ansiedade vai a mil só de pensar em a pessoa não gostar do que comprei, ou de ter gastado muito enquanto a pessoa me comprou um presente de grego.

É, mas não tem jeito: temos que fazer algo de que não gostamos ou não estamos afim só por causa de um costume. E, no meu caso, costume o qual não faz nem parte das minhas crenças. Data que para mim não tem outro motivo que explorar o 13º suado do povo, em escala internacional. E para os que me leem, boas compras nos shoppings, que mais parecem latas de atum; no Saara (Rio de Janeiro), em cuja época do ano faz jus ao nome; na serra - Petrópolis ouTeresópolis (Rio de Janeiro) -, que, apesar das temperaturas mais baixas, apresenta preços lá no alto, devido à famosa “lei da oferta e da procura” do marketing; e em qualquer outro lugar em que você se atreva em fazer compras, que com toda a certeza deve estar lotado.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Amigo-oculto

Sempre no final do ano, seja no curso, na vizinhança ou no trabalho, tal atividade não pode faltar. Além do amigo-oculto (sim, amigo-oculto leva hífen), também existe o tal do “elefante branco”, que funciona com um mecanismo bem parecido do primeiro. Há amigos-ocultos ora com chocolates (ai de quem é diabético ou está de dieta – a maioria das mulheres), ora com presentes com valores exorbitantes. Há pessoas que ora amam, ora odeiam – faço questão de me incluir no último grupo.

Eu odeio amigos-ocultos porque SEMPRE saio perdendo. Fico preocupada e ansiosa para comprar algo que agrade o meu sorteado, e no final das contas acabo ganhando uma bela de uma porcaria. E quando no amigo-oculto você tem que dar pistas sobre quem você tirou? Geralmente alguns usam isso como uma oportunidade de caçoar dos outros e de querer aparecer. Péssimo. Nos amigos-ocultos em que já participei, sempre rolavam farpas e a brincadeira não acabava bem. O pior mesmo é quando é um amigo-oculto em que os presentes são chocolates: você fica sempre paranoica de como os chocolates foram conservados, onde foram guardados, e coisas do gênero. Eu sempre acho que alguém sentou em cima, paranoia pouca é bobagem.

Uma versão mais light do amigo-oculto é o “elefante branco”, que se resume em cada um dos participantes comprarem um presente e, um pouco antes da troca, acontece um sorteio e começa quem tirou o número menor. E, por sua vez, em ordem crescente, continua quem pegou o número menor dentre os participantes que faltam. A pessoa sorteada deve escolher um dos presentes à disposição (é importante que os presentes estejam bem embalados, para ninguém saber o que há dentro) e, caso não goste, pode trocar com outra pessoa que já tenha escolhido o seu. Todos os participantes devem mostrar o que ganharam. Quem tira o número maior é quem sai ganhando, pois pode trocar seu presente, caso não goste – e é o que frequentemente acontece, já que é a pessoa a ficar com o último presente –, com qualquer pessoa. A vantagem desse tipo de jogo é que não tem aquelas introduçõezinhas imbecis que descrevem quem é o seu amigo-oculto, você tem o livre arbítrio para escolher o pacote que quiser, e conta apenas com a sorte no quesito de ser o primeiro ou o último a ser sorteado.

Bem, eu não quis participar de amigo-oculto nenhum – mas talvez participasse de um elefante branco, coisa que só descobri da existência semana passada -, uma coisa quase que intrínseca em escritórios do Brasil nesta data do ano, mas desejo a todos que vão participar muita boa sorte. Feliz Natal, feliz Hanukkah, feliz ano novo, e muitos presentes! Estou no aguardo dos meus.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Banana aos Macacos. Welcome to the Jungle.

Nos tempos de hoje, em que a modernidade nos permite ser tão diferentes e adotar gostos tão particulares, vemos um movimento no qual as pessoas tentam se unir em torno de gostos – limitados – em comum. Vemos aglomerados de gente que compartilham entre si interesses tais como o futebol de todo domingo, a cervejinha gelada, o funk, o pagode, o carnaval, e outras drogas, as quais intitularei de “diversão de massa”. E o governo, por sua vez, aproveita-se da alienação do povo para roubar cada vez mais.

Lá em Brasília, nosso presidente, feliz e contente, junto com a sua gangue, continua a tirar dinheiro do povo, que nada faz, numa conformidade absurda. Como se estivessem tetraplégicos em cadeiras de rodas. O governo quer prover diversão para o povo, glorificando o futebol – não é a primeira vez que um presidente usa o futebol como estratégia de ganhar carisma perante o povo: manjado demais para quem não passou colando nas aulas de história do ensino médio – e outras “diversões de massa”. E vem por aí Olimpíadas, Copa do Mundo... mas alguém já pensou se nosso país tem estrutura para isso? Se nem de um apagão conseguem se dar ao trabalho de explicar o motivo, se nem a violência na prestigiada “Zona Sul do Rio de Janeiro” eles conseguem deter, imagina o caos que será isso? Como diria Regina Duarte na antiga, mas memorável propaganda política do PSDB em referência à possibilidade do Lula chegar ao poder, “Eu tenho medo!”

A última do presidente foi criar um filme narcisista em sua homenagem, santificando-o e comparando-se a todo tempo a Jesus Cristo. Não sou católica, mas ficaria muito aborrecida de ver tal analogia nas telinhas. No final de seu mandato, disfarçado de uma biografia, o filme de Lula servirá para endeusar a imagem do presidente e garantir futuros votos para o PT na próxima eleição para presidente. A personagem que Lula criou, no filme e no palanque, faz dele a imagem, semelhança e o reflexo do povão, maioria absoluta na hora da votação em nosso país desigual. O povo, idiota, identifica-se prontamente. Lula deve pensar, “se o povo quer diversão, banana para os macacos! Muito futebol e funk para todos vocês”.

Sim, essas “diversões de massa” são um reflexo do empobrecimento da cultura. Cada vez menos se vendem livros, e o que mais se vende são besteiróis vampirescos e livros de autoajuda. A venda dos livros de ficção poderia ser uma tentativa desesperada dos leitores de fugir da realidade? E os livros de autoajuda? Seria uma tentativa de ajudar a si próprios a resolver os problemas do cotidiano, já que está impregnado no brasileiro a conformidade de não lutar por seus direitos? Se as pessoas não se mexem para promover a mudança em si mesmas, não será um livro que irá fazer. Enfim, a falta de cultura reflete-se nas conversas nas rodinhas de bar. Os assuntos são superficiais, promíscuos, fúteis. Ninguém discute relações de amizade, questões políticas, as notícias do dia. Não se dão ao trabalho de raciocinar e agem como se fossem macacos amestrados de circo. Aliás, menos que isso, já que existem macacos e outros animais que conseguem pintar quadros abstratos com maestria.

A violência aumenta, e a nova geração cada vez extorque mais os pais, que se enchem de dívidas para pagar aos filhos cursos cada vez mais caros, na tentativa frustrada de fazer com que estes tenham sucesso. Assim, os pais teriam alguma coisa para se vangloriarem na frente de seus amigos a respeito de seus filhos. No entanto, sua prole mal consegue ganhar para alugar um barraquinho na favela. E parecem que não importam nem um pouco com isso. Enfim, a ideia de se mudar da casa dos pais torna-se cada vez mais distante.

Por outro lado, essas “diversões em massa” têm o seu lado positivo: unir as pessoas. Numa era onde as pessoas ficam cada vez mais “virtuais”, o que não é nada saudável, essas atividades vêm para unir as pessoas, fazê-las saírem de casa e se unirem em torno de um objetivo comum, promovendo a diversão, alegria, a união e a amizade – contudo, o quesito amizade é questionável, pois não é porque determinadas pessoas saem juntas para beber ou ver uma partida de futebol, que isso pode ser traduzido em uma amizade profunda e fiel. Na maioria das vezes, é falsidade, mesmo.

É injusto comparar o Brasil à maravilhosa França, onde os preços dos livros são bem acessíveis e boa parte da população tem como habito a leitura. Dificilmente alguém agride a gramática, pelo fato de estarem em contato constante com a comunicação escrita – acho que não preciso lembrar que estou excluindo a internet deste grupo. Lá, as pessoas vão às ruas para lutar pelos seus direitos. A democracia realmente funciona. E a cultura, as artes, são realmente valorizadas pelo governo e a população. Ah, a França... quem sabe um dia a gente não chega lá? Infelizmente, para chegar a tal nível, só de avião, mesmo.

Bem-vindos à selva! Deixo vocês embalados no ritmo do Rock, sempre contestador. A música “Welcome to the Jungle”, de Guns N’Roses, reflete bem o que foi falado até então: