quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Analise sociológica sobre o ser humano e seu jeito mesquinho, individualista e interesseiro de ser, com base na Teoria da Comunicação.


Cheguei ao assunto em questão porque muitas amigas minhas estavam reclamando sobre isso – amigos falsos, interesseiros e, principalmente, egoístas. Amizades de conveniência, e pelos mais diversos interesses, virou praxe. As pessoas viraram objetos descartáveis, o que nos faz confundir se estamos lidando com psicopatas ou apenas com pessoas de má índole. Li a frase dum amigo no MSN que diz o seguinte: “as pessoas entram e saem das nossas vidas como se fossem garçons de restaurante”. A frase é de um grande escritor de livros de terror, Stephen King. Não sou socióloga, mas tenho lá as minhas hipóteses em relação a esse aumento da individualidade alheia no Brasil. Estamos em tempos difíceis, onde carecem empregos, principalmente os mais qualificados; presenciamos o desaparecimento da tradicional classe média, que agora dá lugar a uma classe média de emergentes, caracterizados por pessoas menos cultas e mais consumistas; e numa época onde os homens podem e fazem tudo, pela quantidade desproporcional de homens em relação às mulheres (não que as mulheres sejam santas. Elas, definitivamente, não são). Porém, pretendo dar um enfoque nessa questão pegando emprestado conceitos da Teoria da Comunicação.

Nos primeiros períodos da minha faculdade de comunicação, li um texto referente à matéria de Teoria da Comunicação que me deixou intrigada. O texto Indústria Cultural, de 1947, é dos sociólogos e filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer, oriundos da Escola de Frankfurt, referência mundial para os estudos de comunicação. O tema é sobre a mercantilização da cultura com a consolidação do capitalismo, o que a transformou em efêmera e levou a sua desvalorização. Aparentemente, o texto pouco tem a ver com o assunto da postagem, porém o texto de Adorno serve como analogia para analisarmos o quanto essa característica do capitalismo de ser descartável, que não é apenas um objetivo da produção de bens não duráveis (hoje em dia, duráveis também), reflete-se nas nossas interações do dia a dia. A funcionalidade de certas mercadorias, que nos são úteis para um determinado fim por um tempo determinado, deslocou-se também para os seres humanos, porém muitos não foram avisados disso. Homens e mulheres usam uns aos outros para satisfazer suas necessidades fisiológicas, de segurança e todas as outras pertencentes à pirâmide de Maslow, e depois se encontram na rua como se não se conhecessem. “Amigos” surgem e desaparecem quando lhes for conveniente, principalmente no que se refere ao famoso networking, e desaparecem da mesma forma inesperada com que reapareceram.

Ainda sobre Adorno, até mesmo a desvalorização da cultura consegue refletir a forma de “pensar” atual de nossa sociedade, visto que os meios audiovisuais ganharam a preferência do público, enquanto a literatura, a música e a poesia, que exigem um maior grau de abstração e interação lógica com o intelecto, foram perdendo espaço. Adorno diz ainda que a Indústria Cultural “impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente”. Agora podemos entender o porquê de acharmos as pessoas tão limitadas, e por que não conseguimos discutir mais temas como política e comportamento numa mesa de bar: as pessoas, em geral, estão acostumadas a terem tudo pronto, ou seja, a plagear frases e pensamentos de outros, sem ao menos questionar como surgiram. Se você não sabia o que era pseudo-intelectual, é só ler a frase anterior novamente. A sociedade perdeu a capacidade de raciocinar e limita-se a imitar aos outros, como macacos amestrados de circo.

O capitalismo trás consigo uma valorização do consumo. Antigamente comprava-se um determinado item por necessidade. Mas coube ao capitalismo inventar novos produtos e utilidades para induzir a população a gastar dinheiro e, consequentemente, encher o bolso dos empresários. Surgem itens cada vez com um prazo de validade menor, ou que rapidamente saem de moda, que são facilmente substituídos por outros. E é da mesma forma que funcionam as relações de amizade e amorosas no nosso cotidiano: o dinheiro tem um grande papel na compra e na manipulação das pessoas, que, como os objetos, podem ser jogados fora sem cerimônia. Como diria Sandra de Sá, “joga fora no lixo, joga fora no lixo, joga fora no liiiiiiixooooo”. Dessa forma, a pura e simples amizade entrou em extinção: geralmente as pessoas têm interesses pelos quais se tornam suas amigas – querem comer sua amiga, business, status, e outras razões mais bizarras que prefiro não comentar -, e essas amizades de conveniência têm prazos de validade. Infelizmente não há como evitar isso, já que tornou-se uma prática comum em nossa sociedade assim como a traição masculina, que agora faz parte da cultura brasileira. Como estamos numa época moderna, a traição vista como algo natural vem se extendido também às mulheres.

E aproveitando o gancho, as relações amorosas não têm mais nada de amorosas: namoros são cada vez mais curtos, pela facilidade e naturalidade de hoje em dia se conseguir um novo parceiro e desmanchar um relacionamento. E tornou-se mais que comum namoradas aceitarem que seus parceiros tenham amantes: não é mais necessário mentir. Dessa forma, os homens usam e abusam, pois boa parte das mulheres não lhe põem limites e, assim, concluem que podem fazer isso com todas. As mulheres também têm aprontado horrores, vendem-se por dinheiro descaradamente e, por não estarem plenamente satisfeitas com o seu companheiro, vão buscar o prazer sexual que o marido não pôde lhe conceder com o bonitão da esquina. Não há mais respeito, o respeito foi para o espaço. É como se as pessoas tivessem se transformado em objetos de pouco apreço por parte de seu dono. O termo mulher-objeto, ligado num passado não muito distante às mulheres gostosas e sem cérebro, que só serviam para relações sexuais, agora se abrange a todas as mulheres, já que as relações hoje em dia são cada vez mais voláteis. Mesmo os casamentos, que são instituições que representam um compromisso mais sólido, têm prazos de validades curtos.

Voltando aos sociólogos, outro famoso sociólogo, Zygmunt Bauman, criou o conceito de "modernidade líquida", onde podemos comparar as interações superficiais e efêmeras da pós-modernidade à fluidez e instabilidade da água, que muda de estado rapidamente. Já para Lipovetsky, há nos tempos atuais uma exarcebação de certas características, tais como, o individualismo, o consumismo, a ética hedonista, e a fragmentação do tempo e do espaço. Concluímos, então, que a forma de interação atual foi prevista por estes e muitos outros teóricos. Cabe a nós sabermos as regras do jogo e não nos surpreendemos com o que ainda pode vir a acontecer nas nossas vidas e, inclusive, antecipar e se defender de decepções com o ser humano.

Para descontrair:

OBS: vale lembrar que está faltando uma edição e revisão do conteúdo. Grata.

3 comentários:

Rafael Poubel disse...

Muito bom o texto maya! Concordo plenamente com tudo o que voce escrveu!

Discordo que a individualidade aumenta somente no Brasil. Aumenta no mundo todo, ate mesmo nos países orientais que têm muito a nos ensinar ou tinham pelo menos, sobre espiritualismo e desapego ao materialismo

Amigos muitas vezes surgem por puro interesse, assim como os relacionamentos amorosos ou o "ficar". Mulheres, nao todas é claro, ficam somente com homens bem sucedidos. Alguns homens também têm procurado mulheres extremamente independentes, que venham a sustentá-los

Muitas vezes uma pessoa que diz ter muitos amigos também, é uma pessoa completamente solitária e diz ter todas essas pessoas como amigas como que se fosse para afirmar sua popularidade e sua incapacidade de conquistar bons amigos. Não optam pela "qualidade" e sim pela "quantidade"

Os pseudos-intelectuais se proliferam a mil no brasil e no mundo. ninguem quer criar algo novo e precisa ficar citando nomes de escritores e outros intelectuais famosos e tudo mais


Acho que o mais falta no mundo de hoje é pensar no coletivo, ter tolerância e ser uma pessoa original e verdadeira. Quando isso acontecer, já será um grande passo para uma sociedade mais justa.

Maya . disse...

Ahahaha se lembrou de teoria da comunicação? Essa matéria eu acho que até fiz contigo. TRAUMAAAAA da Estácio.

Maya . disse...

*OBS: concordo que a individualidade não seja uma coisa intrínseca do Brasil, mas quis me fixar no jeitinho brasileiro de ser por não ter plenos conhecimentos do maneira de ser de outros povos. Foi mais uma medida de segurança a fim de evitar generalizações.